quarta-feira, dezembro 17

Poesia sem nome, sem fôlego e sem intenção.



Quase sem fôlego começo a pensar
o que poderia escrever que fosse
sensivelmente sincero
ternamente saudoso,
infantilmente ingênuo,
suficientemente alegre
e amorosamente envolvente.


Me impulsiono em direção à folha
mas me faltam as palavras,
me sobram reticências
e me escapam os suspiros
pela boca ressequida e muda
que esquecera de dizer
o que era desnecessário
mas pungente e vivaz.


O que não era antes,
mas depois de cultivado
agora tem força arrebatadora
e dança velozmente por entre meus pensamentos,
sentimentos e palavras... palavras não!
Estas me faltam, fogem e flutuam
na velocidade do vento formado
nas turbulências dos meus suspiros.


As palavras sempre escoam
por entre o vácuo formado
pela falta e o vazio de você
e o tempo que se afasta
e me olha, encara e convence.
Convencer do quê?
Talvez apenas de que não importa
o quão sejam necessárias as palavras,
para que em um olhar eu me perca
e em um instante perceba
que mesmo sem saber o que seria perfeito
ou o que deveria ser escrito, ou dito,
sei o quanto sou capaz de sonhar!




Francine.

terça-feira, dezembro 2

Poesia sem nome


... e confiei ao que meu desejo dizia
a sorte de me fazer sorrir
E ele, com voz doce e envolvente
foi me fazendo acreditar,
acreditar que tudo o que seus olhos me dizem é verdade
uma verdade que me inebria e me faz sonhar
Sonho ou verdade, desejo, sorte ou confiança,
o que ainda se mantém e me mantém
é o brilho dos seus olhos
e a minha teimosa esperança.


Francine.

segunda-feira, novembro 24

Plumas Leves


Que a vida em plumas leves

leve o meu pesar,

pois o que de sonhos eu tinha

já me levastes

leve como pluma ao ar.


Se meu lamentar te serves,

me acolha do luar,

para a lua que me serve

não torne a me contentar.


Pois para a vida já me basta

não ver que a lua viva a brilhar, flutuar.

E que mão da minha amada,

recatada e pálida e fria,

ao segurara flor viva,

exala o aroma de luar

da minha amada,

a causa de meu pesar.


Não quero mais este luar

a pesar em meu peito!

Cerre-me os olhos

Oh flor de meu pesar.

Leve-me contigo, ao abrigo do luar.


Falta me faz o tempo sereno,

em que mirar, eu podia,

aos seus olhos o luar.

Que me falte o ar!- não!-

Que me sobre o ar!!

E que me sopres pelo vento,

me leves.....Como plumas leves pelo ar.


Francine.

segunda-feira, setembro 22

Que vida?


Que Vida?

A vida não é só viver
Sobreviver pra quê?
se não se sabe sonhar?
se não se pode ganhar?

Mesmice do sertão,
igualdade na falta:
de amor, de alegria, de gente.
Gente que só ouve não.
Onde não há mesa,
nem mesmo há o pão!

Trabalhar ainda,
sem esperança, sem cobiça,
sem ganância.
Ver a seca, a fome e a desilusão.
Ser alguém sem ter brio
Dizer amém e ir além...

Quando chega o alívio, no escuro,
esquecer do homem,
da diferença e da cobiça
É a morte naquela capa,
que sufoca e seduz
aquele povo capaz
que carregava sua cruz
Com a sina...
da briga,
da luta pela luz
do sol, da flor da vida...
Mas, Que Vida?
Francine.

segunda-feira, agosto 4

Figuras de um protótipo de poema.





Vento, luz, som,

velocidade de substantivos.

Cérebro codifica imagem,

vista e paisagem: catacrese da vida,

ao visto que não é vivo.


Sangue, cada vez mais ativo

na palavra, do poema um cativo.

O coração pulsa sem contagem

Disparado, louco, frenético e sem limite.


Esfera, tinta e corpo,

treme, sua, trabalha.

A força se enfraquece,

a hipérbole não lhe atinge.

Escrever, cair ou fugir...

A falta da língua, do domínio

É a dúvida que lhe atinge.


Veneno e antídoto;

Paradoxo da verdade,

mocinho sem bandido:

É a vida quando corre,

quando corre sem sentido.


Tic-tac, o tempo

Onomatopéia sem fim.

A antítese sem filtro

sem parar dentro de mim.


Significados das palavras

quando nunca dizem sim.
A vida em verso confuso

que exprime tudo

em fundo um contido:

Em único a palavra

A palavra e seu (sem) sentido.


Francine.

segunda-feira, maio 12

O Último Adeus.




A mão, já cansada e calejada, segura trêmula a caneta sofrida que, sangra no papel, apenas para dar-lhe a vida, como a mãe ao dar a luz. Este filho, como tantos da parideira esferográfica, terá sentidos e ações, é o que deseja seu pai, a mão. Como uma droga, viciará seu leitor, e só viverá deste vício, pois apenas com um “drogado” é que sua vida toma forma.
Terminado, este filho que poderá ser considerado apenas um rascunho, um esboço, e então, rasurado irá se juntar a seus irmãos em uma velha gaveta esquecida, ou ao cesto, onde descansará e não terá a oportunidade de viciar a ninguém, nem de ter aquela vida que lhe foi prometida por uma trêmula mão esperando o sucesso almejado, ou então, o filho não terá o reconhecimento de seu pai, porque será considerado publicação póstuma.
Esta é a conclusão que se chega após ver a inseparável amiga, companheira e rival, a mãe de tantos filhos, que com amor foram criados, cair por sobre a mesa porque seu comparsa, seu cúmplice, o pai, a larga dando adeus à sua rotina, à sua estrada, por tanto tempo caminhada com dedicação, se despedindo de seus filhos, nunca antes publicados. Já sem cor, com o último suspiro, dá seu último adeus.


Francine.

segunda-feira, março 3

Sonhar é melhor que nada - Luís Fernando Veríssimo

Acho a maior graça. Tomate previne isso, cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância, mas não exagere... Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos. Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde. Prazer faz muito bem. Dormir me deixa 0 km. Ler um bom livro faz-me sentir novo em folha. Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois rejuvenesço uns cinco anos. Viagens aéreas não me incham as pernas; incham-me o cérebro, volto cheio de idéias. Brigar me provoca arritmia cardíaca. Ver pessoas tendo acessos de estupidez me embrulha o estômago. Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano. E telejornais... os médicos deveriam proibir – como doem! Caminhar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo faz muito bem: você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada. Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde. E passar o resto do dia sem coragem para pedir desculpas, pior ainda. Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate ou mussarela que previna. Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau! Cinema é melhor pra saúde do que pipoca. Conversa é melhor do que piada. Exercício é melhor do que cirurgia. Humor é melhor do que rancor. Amigos são melhores do que gente influente. Economia é melhor do que dívida. Pergunta é melhor do que dúvida. Sonhar é melhor do que nada.

segunda-feira, janeiro 14

Reticências Iniciais.


...

Quero a caneta, o papel, a história, o poema
Assim como criança quando chora esfomeada
Mas quando antes da história
há um pré, já uma certa história,
nada mais me faz rir
Nem há a festa que brilhava em meus olhos;
É refletir o vão, o vácuo, o esperar...

O encantamento de um sonho
que falseava por entre meus pensamentos,
sentimentos, flores, ares, esperanças...
Morre deste modo, por entre meus dedos,
o versinho, que de fraco não viveu.
É por motivos estes
que me entoja a introdução
Náusea é, ao bailar suavemente
um prefixo em minha história
Reticências rimadas ou não.

Dou meu salto precursor,
Trêmulas as pernas que me fazem voar,
Voar diretamente ao meio,
para que não caia em profundo medo
apenas ao pensar em começo.
Me fascina a tentação do desenvolvimento,
que me hipnotiza até o ponto final, meu desfecho.
É então que sem poder, percebo...
Fui vencida pelo medo, domada pelo temor.
Antes, pois, de minha história, de meu querer,
já havia um pré: a caneta, o papel,
o desejo, o verso e as reticências...


Francine.